"Nos anos quarenta, tal como no virar do século, as direitas mantêm-se apenas duas: perante liberais e conservadores erguem-se os revolucionários, os dissidentes, os contestatários. Na verdade, não são mais do que duas realidades históricas representadas por duas categorias analíticas. De um lado, os homens e movimentos que aceitam os princípios de base e as regras do jogo em vigor na democracia liberal - o que implica igualmente uma aceitação de facto da ordem estabelecida - e de outro lado, os que a rejeitam: os revoltados que durante todo o meio século que vai até ao Verão de 1940 prepararam a queda da democracia. (...)
Os movimentos fascistas - todos os movimentos fascistas - participam de uma mesma genealogia: uma revolta contra a democracia liberal e a sociedade burguesa, uma recusa absoluta em aceitar as conclusões inerentes à visão do mundo, à explicação dos fenómenos sociais e de relações humanas de todos os sistemas de pensamento ditos «materialistas». (...)
É assim que emerge da realidade histórica do meio-século que precede a Segunda Guerra Mundial a essência do fascismo: uma síntese de nacionalismo orgânico e de socialismo anti-marxista, uma ideologia revolucionária fundada sobre a recusa ao mesmo tempo do liberalismo, do marxismo e da democracia. Essencialmente, a ideologia fascista é uma recusa do «materialismo» - o liberalismo, o marxismo e a democracia não representam mais do que diferentes facetas do mesmo mal «materialista» - e assume-se como geradora de uma revolução espiritual total. O activismo fascista, aliado ao elitismo, preconiza um poder político forte, livre dos entraves da democracia: emanação da Nação, o Estado representa a sociedade reunindo todas as suas classes. A planificação, o dirigismo económico, o corporativismo constituem elementos maiores do pensamento fascista, que se traduzem mais concretamente na vitória da Política sobre a Economia e na entrega de todas as alavancas de comando da economia e da sociedade nas mãos do Estado.
Ideologia de ruptura por excelência, o fascismo representa a recusa de uma certa cultura política associada à herança do século XVIII e da Revolução Francesa. Propõe lançar as bases de uma nova civilização. Uma civilização comunitária, anti-individualista, única via capaz de assegurar a permanência de uma colectividade humana onde são perfeitamente integrados todos os estratos e classes da sociedade.
O quadro natural dessa colectividade harmónica, orgânica, é a Nação. Uma nação apurada, revitalizada, onde o indivíduo representa uma célula do organismo colectivo; uma nação que goza de uma unidade moral que o liberalismo e o marxismo, ambos factores de deslocação e de guerra, nunca poderiam assegurar. São essas as componentes do «mínimo» fascista: a força do fascismo vem da sua universalidade, do seu carácter de produto de uma crise da civilização."
Z. Sternhell
in "Ni droite ni gauche. L'idéologie fasciste en France", Complexe, 2000.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Ideologia de ruptura por excelência...
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