quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A esquerda e os intelectuais

É sabido que os portugueses vivem, desde há 30 ou 40 anos, sob uma ditadura cultural. Os esquerdistas indígenas tomaram de assalto a imprensa, o cinema, o teatro, as editoras, a educação. A partir do final dos anos 50 o Estado Novo, por opção política orçamental, restringiu a acção do SNI, já sem António Ferro, e permitiu que surgisse no horizonte cultural a Fundação Gulbenkian, presidida por Azeredo Perdigão, velho maçon socialista e esposo amantíssimo da viúva de Farinha dos Santos, ex-secretário geral do Partido Comunista. A ditadura começou aí. Acoitaram-se na Gulbenkian quantos adversários do regime ambicionavam ganhar concursos e bolsas de estudo na estranja. Enquanto a batalha política se travava sobretudo com as teses integracionistas, a batalha cultural começava a ser feita em nome do realismo socialista e da redenção proletária. Para além disso, a Gulbenkian desnacionalizou a cultura portuguesa, a decoração do esquálido palácio de Palhavã sem nada de autenticamente nacional, Portugal transformado num arrondissement de Paris... Com falsas rezas e a poder de porta-moedas, a esquerda sacripanta conseguiu instaurar no meio cultural a ditadura de que se queixava cá fora. Não é de admirar! Como dizia Orwell — a esquerda é antifascista, não é antitotalitária. (...)

Por outro lado, é facílimo produzir um intelectual de esquerda. Há candidatos em abundância. Qualquer doutor, mesmo que só da mula russa, serve lindamente para o efeito. Umas vagas ideias sobre liberdade, igualdade e fraternidade; meia dúzia de lugares-comuns sobre tolerância, direitos humanos e justiça social — e o candidato ascende imediatamente ao grau de catecúmeno. Dois ou três artigos no "Público", uma crónica no "Expresso", duas aparições na televisão — eis a consagração definitiva. Para manter acesa a chama do estrelato, o prometedor plumitivo só precisa de passar a frequentar os sítios certos; achegar-se a um dos dois partidos que alternam no poder; citar de cor Marcuse, Althusser ou Sartre; e assinar petições — a favor da droga, do aborto, da regionalização... Não custa nada! E assim nasce, fresco e tenrinho, mais um novo vulto da cultura lusíada.

(Excertos de texto não assinado do antigo site do PNR.)

3 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

O tipo de artigo da Guerra Fria bolorenta que não ganha votos...

Anónimo disse...

A razão ou falta dela não se mede pelo número de votos. Já dizia o velho Céline: "la majorité, c'est les cons".

Flávio Gonçalves disse...

Uma verdade para mim, para si e para todos os envolvidos em movimentos alternativos... infelizmente não vale quando se entra no jogo partidário.

E a meu ver está errado o artigo, conheço mais esquerdistas anti-sistema do que direitistas.