«Quando os observo a abrirem em silêncio corredores na rede de arames farpados, a escavarem escadas de assalto, a compararem relógios fosforescentes, a determinarem a direcção do norte pelas estrelas, ganho uma consciência flagrante: eis o homem novo, o sapador de assalto, o escol da Europa Central. Uma raça completamente nova, inteligente, forte, carregada de vontade. O que se descobre no combate, e surge até à luz, será amanhã o eixo de uma vida com rotação sonora e cada vez mais rápida. Não haverá sempre, como aqui, que abrir caminho entre as crateras, através do fogo e do aço, mas o passo de carga que impulsiona o acontecimento, o tempo ditado pelo ferro, continuarão imutáveis. O poente abrasado de uma era que desaparece é também uma aurora onde há que se armar para combates novos e mais duros. Longe, na retaguarda, as cidades gigantescas, os exércitos de máquinas, os impérios cujo tufão rasga os ligamentos internos, espelham o homem novo, mais intrépido, aguerrido no combate, que não se poupa nem poupa os outros. Esta guerra não é o final da violência, é apenas o seu prelúdio. É a forja onde o mundo é martelado em fronteiras novas e novas comunidades. Formas novas reclamam um sangue que as encha, e o poder quer que dele se apoderem com uma mão de ferro. A guerra é uma grande escola, e o homem novo será da nossa têmpera.»
Ernst Jünger
in “A Guerra como Experiência Interior”, Ulisseia (2005).
domingo, 26 de outubro de 2008
O homem novo será da nossa têmpera
Categorias:
Ernst Jünger
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário