«Nos dois três primeiros mil anos de existência trepámos a uma certa altura de civilização; mas depois temos vindo rolando para baixo numa cambalhota secular.
O tipo secular e doméstico de uma aldeia Ária do Himalaia, tal como uma vetusta tradição o tem trazido até nós, é infinitamente mais perfeito que o nosso organismo doméstico e social. Já não falo de gregos e romanos: ninguém hoje tem bastante génio para compor um coro de Ésquilo ou uma página de Virgílio; como escultura e arquitectura, somos grotescos; nenhum milionário é capaz de jantar como Lúculo; agitavam-se em Atenas ou Roma mais ideias superiores num só dia do que nós inventámos num século; os nossos exércitos fazem rir, comparados às legiões de Germânicos; não há nada de equiparável à administração romana; o boulevard é uma viela suja ao lado da Via Ápia; nem uma Aspásia temos; nunca ninguém tornou a falar como Demóstenes: — e o servo, o escravo, essa miséria da antiguidade, não era mais desgraçado que o proletário moderno.»
Eça de Queirós
in "Cartas de Inglaterra"
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Revolta contra o mundo moderno
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Eça de Queirós
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1 comentário:
So true, so true...
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