terça-feira, 25 de novembro de 2008

Marocchinate

O termo Marocchinate («Marroquinadas» traduzindo literalmente) designa, em italiano, as mulheres que foram violadas após a batalha de Monte Cassino pelos goumiers (soldados marroquinos) das tropas coloniais francesas comandadas pelo general Juin.
A 14 de Maio de 1944, os goumiers atravessavam um terreno muito hostil nas montanhas de Aurunci. Tentam contornar as tropas alemães com o fim de quebrar a linha Gustave. O general Juin terá declarado antes da batalha: «nas próximas 50 horas serão os únicos mestres de tudo o que encontrarem atrás das linhas inimigas. Ninguém vos punirá pelo que fizerem, ninguém vos colocará questões.»
A 18 de Maio, os aliados tomavam Montecassino. Na noite seguinte, milhares de goumiers acompanhados de outras tropas coloniais invadiram as povoaçoes da região de Ciociaria (a sul de Lázio) perto do campo de batalha. Quase 2000 mulheres, dos 11 aos 86 anos, foram violadas durante a noite. Os homens que tentaram defender as suas mulheres e filhas foram assassinados sem misericórdia. Estimam-se 800 mortos. Duas irmãs com 15 e 18 anos foram violadas por uma dúzia de homens cada uma. A primeira morreu alguns dias mais tarde, a segunda continuava internada num hospital psiquiátrico em 1997, 53 anos após a tragédia. Numerosas casas foram destruídas depois de os soldados pilharem todos os objectos de valor. O autarca de Esperia, uma das zonas visadas, contou 700 casos de violações entre 2500 habitantes. Numerosas vítimas pereceram na mesma noite.
Assim que a história se tornou conhecida, o Papa Pio XII comunicou ao Estado Maior aliado que esses regimentos não seriam bem-vindos em Roma. Outros ataques dos goumiers sobre civis italianos foram registados durante as semanas seguintes a Norte de Roma e na Toscânia. A Abril de 1945, o mesmo regimento terá violado 500 mulheres em Freudenstadt, na Floresta Negra , desta vez sobr o comando do general de Lattre de Tassigny. Em Estugarda, cerca de 2000 mulheres terão sido encerradas e violadas no metro. As autoridades francesas sempre negaram estas acusações.
Com o objectivo de relembrar este drama, um monumento, a «Mamma Ciociara», foi erigido em Castro dei Volsci. Em 1957, o escritor italiano Alberto Moravia escreveu o romance La Ciociara. Recolheu numerosos testemunhos para documentar o seu livro. A história foi em seguida adaptada ao cinema por Vittorio de Sica. Sophia Loren, que desempenhou o papel principal, recebeu o Óscar para melhor actriz em 1960. Foi a primeira vez que uma actriz recebeu esse prémio por um filme rodado numa outra língua para além da inglesa. Em 2006, o filme «Indigènes», sobre a participação de marroquinos em contingentes franceses durante a 2ª Guerra Mundial, não evocou o assunto.

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