“Na vasta biblioteca do castelo dos Hohenzollern, Céline escolhera uma velha colecção da Revue des Deux Mondes, 1875-1880. Não se calava sobre a qualidade dos textos que lia: «Isto é que é estudo sério, bem analisado, profundo, instrutivo… belo estilo, preciso… sem palha.» Foi a única leitura que o vi fazer na minha presença. Era extremamente cauteloso na dissimulação dos seus «mestres», da sua «formação». Como se a sua originalidade não tivesse por si própria dado provas, magnificamente.
De tempos a tempos, quando passeávamos os dois sem testemunhas, voltava-lhe o desgosto da sua carreira cortada, mas sem demonstrar fraqueza inútil, em tom de brincadeira:
— Estás a ver? Donde parti… se não tivesse a mania de querer dizer as verdades… que poleiro teria… O grande escritor mundial da «gôche»… o bardo do sofrimento humano, da pulhice absurda… sem ter que disfarçar nada. Que grande gozo, Bardamu, Guignol, Rigodon… Prémio Nobel… Os pobres merdosos Aragon, Malraux, Hemingway, ao pé do Céline… que ganhou antes deles. Ai! Diz lá… onde é que eu iria parar! «Mee-estre»… O Nobel… Milionário… A grande condecoração… Doutor Honoris Causa… Vês isso acontecer-me aqui!”
Lucien Rebatet
in "Memórias de um Fascista", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Céline por Rebatet
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