«Se não percorremos as ruas de Paris, nem andamos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L’Action Française com Bardeche, Thierry Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias [...] Não colaboramos num Je Suis Partout com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lebre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhavámos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.
Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença e da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Defense de l’Occident, que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barres, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutávamos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas, mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.
Não presenciámos la dure floraison dês jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de voluntários franceses antibolchevista; não deparámos com o fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré-cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da nação e do chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas ao conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.
De qualquer modo, porém, foi para nós o fascismo, como o foi para Brasillach, encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim, esse fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado, e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido, era sempre o mesmo fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.
No fascismo encontrámo-nos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela revolução que foi a revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano.»
António José de Brito
in "Tempo Presente", n.º 10, Fevereiro de 1960, pp. 10-13.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
A Revolução do século XX
Categorias:
António José de Brito,
Nacionalismo Português
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2 comentários:
«não deparámos com o fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré-cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da nação e do chefe»
Então há um chefe? Um iluminado? Um Deus? Perante quem nós devemos desfilar, saudando de braço estendido a mística de sua excelência?
Não podemos nós raciocinar por nós próprios? Precisamos de um Messias e de cânticos?
Para uns 90% da humanidade (os portugueses então...), parece-me que é bem assim... gado, gado e mais gado.
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