«Quando conhecemos efectivamente toda a monstruosidade da morte pelo fim daqueles que amamos, torna-se fácil dar-lhe muito menos importância quando se trata de nós mesmos, e de a olhar então com indiferença, seja com mais ou menos atracção. Para mim, esta atracção nasce em parte das circunstâncias presentes. Muito convencido que assistimos a uma queda imensa do homem e que forças materiais de uma potência irresistível trabalham, sem cessar e por toda a parte, para reduzir à uniformidade, à insignificância, à vulgaridade, estes seres humanos que se distinguiam outrora pela ideia de tantas qualidades diversas, persuadido de que o homem deixa para trás o auge da arte, do heroísmo, da virtude, seguro de que a minha própria pátria está no passado, deve tornar-se-me muito mais fácil deixar um mundo que não tem mais nada para me reter e do qual não terei a lamentar senão a luz. Os velhos de ontem tinham a tristeza de deixar o seu mundo durar para além deles. Uma melancolia mais subtil está reservada a alguns de entre nós: é ter visto o seu mundo acabar antes de si. Não lhes resta mais que juntar-se a esse grande cortejo dourado que se afasta, e confesso que, por vezes, tenho um pouco de vergonha de tardar.»
Abel Bonnard
terça-feira, 24 de março de 2009
A nossa própria pátria está no passado
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