«O accionista, hoje, é mundial: de um continente a outro, o seu comportamento é idêntico. O mesmo sucede com o consumidor, que se preocupa muito pouco com o lugar de produção dos bens que adquire e que, onde quer que se encontre, privilegia os fornecedores com os preços mais baixos. Assim, o cidadão, cuja existência está ligada ao território nacional, é vítima da sua própria esquizofrenia, dado que as suas escolhas, na qualidade de consumidor ou, se for esse o caso, de accionista, alimentam e reforçam um capitalismo mundializado que implica a diminuição da sua própria soberania. O individualismo, fundamento da economia liberal, triunfa na esfera das trocas e faz recuar em toda a parte o sentimento de solidariedade colectiva. Muitas vezes os mais ricos, esquecidos do que devem aos Estados em que nasceram, em que foram criados, formados, educados, em que estabeleceram a sua prosperidade, deslocalizam facilmente rendimento e património para lá das suas fronteiras, dirigindo-os para onde os impostos são mais baixos. Exemplo puro de dissociação individual, o desejo de enriquecimento que têm leva-os a repudiar a sua própria cidadania. O internacionalismo mercantil que professam faz deles apátridas.»
Jean Peyrelevade
in O Capitalismo Total, Edições Século XXI
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Os apátridas
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