sexta-feira, 3 de julho de 2009

Da inutilidade das barragens

"Reprimido, o impulso transborda e, espalhada a torrente, é o sentimento; espalhada a torrente, é a paixão; espalhada a torrente, é a própria loucura: tudo isso depende da força da corrente, da altura e da resistência da barragem. O ribeiro sem obstáculos corre única e simplesmente ao longo dos canais que lhe foram destinados, em direcção a uma calma euforia. O embrião tem fome: do princípio ao fim do dia, a bomba de pseudo-sange dá, sem parar, as suas oitocentas voltas por minuto. O bebé decantado berra. Imediatamente uma enfermeira aparece com um biberão de secreção externa. O sentimento está à espreita durante o intervalo de tempo que separa o desejo da satisfação. Reduza-se esse intervalo, derrubem-se todas essas velhas e inúteis barragens."

Aldous Huxley
in "Admirável Mundo Novo" (1946)

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