«João Ameal alertou, no fim da II Guerra Mundial, para a "deseuropeização" do homem europeu.
No livro de ensaios Europa e Seus Fantasmas, publicado em 1945, o historiador João Ameal escreveu: "O autómato desespiritualizado que nos querem impor hoje e se assemelha muito estranhamente a um robot - nada se parece com um europeu de qualquer época. Nega - ou renega - as tradições europeias. E se se 'deseuropeíza' o homem europeu, a Europa não se salva - perde-se."
Se João Ameal vivesse hoje, escreveria de certeza palavras bem mais alarmadas do que estas saídas da sua pena sob o impacto directo da II Guerra Mundial, que foi também, tal como a que a precedeu entre 1914 e 1918 (e esteve na sua origem directa), uma catastrófica guerra civil europeia, cujas consequências ainda hoje se sentem.
Aquilo a que Ameal chamou a "deseuropeização" do homem europeu tem vindo a acelerar-se nos últimos anos, à medida que se desatam lentamente os laços profundos que unem ainda a comunidade de povos europeus, que se atacam e se esbatem as identidades, tradições e especificidades que a formam, que se ameaça o património cultural e civilizacional partilhado que sustenta a ideia mesma de Europa. E que é a expressão da sua ancestral, convulsa, gloriosa e riquíssima história colectiva, da sua "personalidade metamórfica", como notou Guillaume Faye, e da alma e da memória dos seus povos.
O homem europeu corre assim o risco de ser substituído por essa abstracção descaracterizada, desnacionalizada e desmemoriada que é o "cidadão europeu", lamentável "lixo de teorias simpáticas", recorrendo à feliz expressão com que Fernando Pessoa caracterizou o socialismo e o comunismo (Pessoa que, recorde-se, deixou escrito na Mensagem que a Europa fita o Ocidente "e o rosto com que fita é Portugal").
Este europeu desenraizado, filho e representante de uma Europa cada vez mais alienada de si mesma, será a nova criatura robótica telecomandada dos centros de poder eurocráticos, com o alegre beneplácito e a prestimosa colaboração dos vários governos "nacionais" e das respectivas pseudo-elites, embriagadas pelo optimismo da vulgata da utopia "europeísta" que, tão certo como o Sol nascer e se pôr todos os dias, fará da Europa uma feliz, harmónica, lânguida e multicultural Cucuanha com sede em Bruxelas, de braços abertos a todos os que lhe quiserem pertencer e vierem por bem. Mesmo que nunca tenham tido absolutamente nada a ver com ela, e não faça o menor sentido geográfico, histórico, político ou cultural que nela se integrem.
O historiador francês Dominique Venner escreveu recentemente: "Não há futuro para quem não sabe de onde vem, para quem não tem a memória de um passado que o fez aquilo que é." Estas palavras encontram-se com as de João Ameal. Mas haverá ainda tempo e vontade para que a Europa, a nossa "grande Pátria comum", continue a sê-lo, e para fazer com que os europeus não esqueçam quem são, de onde vieram e aonde pertencem?»
Eurico de Barros
in "Diário de Notícias", 6 de Junho de 2009.
sábado, 20 de junho de 2009
A nossa grande Pátria comum
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Eurico de Barros,
Europa
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