Marcello de Angelis, jornalista de profissão, é também vocalista da banda 270Bis. Ligado à militância nacionalista desde muito jovem, atravessou o exílio em Paris e Londres, onde trabalhou como gráfico e ilustrador. Personalidade de referência no movimento nacionalista, desempenhou funções como senador e membro de diversas comissões parlamentares. Em 2008 foi eleito para a Câmara dos Deputados como cabeça-de-lista pela coligação de Berlusconi.
Enquanto jovem, é descrito como curioso, dotado de uma sólida cultura europeia e fluente em diversas línguas, assim como dotado desenhador e leitor assíduo de bandas-desenhadas. Foi maquetista de profissão, um ofício que aprendeu graças à improvisação garantida pela experiência de activista.
Precoce na política, juntou-se à secção de Roma, sua cidade natal, do Fronte dellà Gioventu, a organização juvenil do Movimento Social Italiano (MSI). Aos 14 anos, é confrontado com a difícil situação de jovens "camerati" neo-fascistas que se opõem com uma violência crescente aos "compagni" de esquerda.
Regularmente, os jovens "missini" são assassinados por marxistas e a vida nas escolas e faculdades torna-se uma luta quotidiana. Durante os anos 70, a cruz celta é uma provocação inadmissível para os "novos partisans", como gostam de definir-se os que formam o vasto grupo que mais tarde dá origem a organizações terroristas como as Brigadas Vermelhas. Um slogan floresce nas paredes, ultrapassando o simples comentário: "matar um fascista não é um delito".
Desiludido pelo "conservadorismo" do movimento de Giorgio Almirante, Marcello abandona o MSI e junta-se a um pequeno grupo de jovens activistas que gravita em torno de diferentes escolas da capital italiana: "Lotta Studentesca". Em 1978, é constituída a organização que mais dará que falar em Itália, apesar da sua breve existência de dois anos: Terza Posizione.
No segundo número da revista "Per la Terza Posizione", um artigo intitulado "nossa luta", apresenta a futura linha do movimento: "Militar na esfera da Terceira Posição significa combater um imperialismo russo-americano, recusar e lutar contra as duas frentes políticas, comerciais e militares ligadas ao Kremlin e à Casa Branca".
O nome da organização tem origem numa fórmula cara ao general argentino Peron. Entretanto o grupo desenvolve-se e mesmo o Mundo da Educação (Janeiro 1981) reconhece o sucesso desta "nova extrema-direita": "os jovens fascistas mantêm o gosto pela violência e o culto dos heróis. Mas adoptaram a linguagem, a música, as preocupações de toda a sua geração."
Este período florescente para os jovens militantes da Terza Posizione será de curta duração. A 23 de Setembro de 1980, na sequência do terrível atentado na estação de Bolonha (que hoje se sabe dever à loja maçónica P2 de Licio Gelli e a certos sectores dos serviços secretos) a repressão abate-se sobre a Terza Posizione.
Mais de 500 polícias são mobilizados para deter cerca de quarenta jovens, alguns com menos de 18 anos, acusados de "constituição de grupo armado" e "associação subversiva". As prisões italianas enchem-se então com várias centenas de prisioneiros nacionalistas. Alguns ficarão detidos quatro anos em prisão preventiva até serem... absolvidos! Entre os cerca de sessenta activistas que conseguem fugir a tempo, certos quadros como Marcello conseguem passar a fronteira. Deixa para trás a sua namorada de 19 anos, grávida de 4 meses, que dará à luz na prisão. A 21 de Janeiro de 1981, o seu filho Luca Nazzareno vê o dia. Tem o mesmo nome do seu irmão, "Nanni".
A 5 de Outubro de 1980, Nanni havia sido detido pelos homens da Digos, um autêntica polícia política. Ferido durante a detenção, é encontrado morto nessa mesma tarde, na sua cela, na prisão de Rebibbia. Um "suicídio", segundo as autoridades judiciais. Os camaradas não têm dúvidas: Nanni foi assassinado, morreu por falta de cuidados depois de ter sofrido brutalidades policiais. Após estadia clandestina em França, Marcello refugia-se na Grã-Bretanha. É preso em 1981 e cumpre seis meses de prisão em Brixton. O pedido de extradição é recusado por juízes ingleses e Marcello torna-se "livre" para levar uma vida de "refugiado", em conjunto com uma quinzena de camaradas.
Após quase dez anos, Marcello toma a decisão de regressar a Itália, seja qual for o custo. Decide enfrentar a condenação a cinco anos e seis meses de prisão "devido ao artigo 270 Bis" e regressa a Roma, ou melhor, à prisão romana de Rebibbia, onde o seu irmão morrera e o seu filho nascera. Após três anos, graças a uma redução de pena em 1989, as portas da cela abrem-se e Marcello olha em seu redor. O mundo havia mudado.
Da breve experiência de liberdade reencontrada, apenas um surpreendente ponto positivo: a cassete que havia enviado a um amigo enquanto estava encarcerado havia dado volta à Itália e não passava um dia sem encontrar alguém que conhecia as suas canções de cor, as interpretava e dava a conhecer. Tendo isso em conta, e segundo o provérbio "uma canção faz mais estragos que cem mil folhetos", ele empunha novamente a sua guitarra. Com Cláudio Scotti - conhecido como Gianetto - velho camarada e co-arguido reencontrado após muitos anos, o jovem Ultra da Lazio Antonello Patrizi - conhecido como Babba - e o baterista Gianlucca Rizzante, constitui a primeira formação dos 270 Bis, assim chamada em honra da experiência processual... Estamos em 1993. O primeiro reportório do grupo compôs-se de velhos sucessos revisitados de Marcello (Settembre Nero, Eri Bella), de temas escritos atrás das grades (Cara Amica, El Bandido, Salve Sole, Ehi! Guardia) assim como outros nascidos do impacto do regresso (Apri gli Occhi) e da observação do novo mundo - mais velho ao mesmo tempo - (Bomber Nero, Spara sulle Posse). O ano seguinte foi marcado por um salto qualitativo graças à chegada do saxofonista Max Cocciolo. Após numerosos concertos, é editada a primeira cassete intitulada "I Signori della Guerra" ("Os Senhores da Guerra"). Os cinco mil exemplares produzidos esgotaram-se num ano. Seguiu-se o segundo LP - "Cuore Nero" ("Coração Negro") com temas retomados do reportório original e de novas músicas que rapidamente se tornariam grandes sucessos (Non Scordo e Claretta e Ben). Sucede-se um período de estagnação e de transformações dolorosas. Entre boicotes e vetos da quase totalidade das forças políticas (cada uma por razões distintas), os membros dos 270 bis prosseguiram as suas actividades de provocadores cantores dando mais de cem concertos em quatro anos.
sábado, 28 de junho de 2008
Marcello de Angelis e 270 Bis
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2 comentários:
Cabeça de lista duma coligação estadunidófila, mafiosa, maçónica e ultracapitalista... sim senhor... um exemplo a seguir, lembra-me o Paulo Teixeira Pinto ;)
Fora isso, sou fã da música deste senhor, bom artista, mau político.
Na música "non nobis domine" do disco "incantesimi d'amore" ele faz apologia a "jacques demolay" que se não me engano é atualmente o símbolo da juventude maçonica...
gosto apenas do marcello de outrora, e não nisso que ele se tornou hoje...
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