terça-feira, 17 de junho de 2008

Ousar!

(Umberto Boccioni, "Carga dos Lanceiros")

«Segundo o célebre verso de Hölderlin “estamos na Meia-noite do mundo” e quando o sol se levantar a manhã deverá pertencer-nos. Giorgio Locchi dizia o mesmo: vivemos o Interregno, entre o desmoronar de um sistema e a construção do novo universo que será metamórfico. É portanto urgente construir uma concepção do mundo que constitua o denominador comum da nossa corrente de pensamento, à escala europeia, e que, face à emergência, supere as disputas secundárias de doutrina ou sensibilidade. A noção de arqueofuturismo pode ajudar-nos. Como já profetizava Nietzsche: «O homem do futuro será o que tiver a mais longa memória».

Permaneço sempre fiel ao conceito global de “nacionalismo”, mas entendido na sua dimensão continental, europeia, e não o hexagonal herdado da discutível filosofia da Revolução Francesa. Hoje, ser nacionalista significa dar de novo a este conceito o seu significado etimológico original: “defender os nativos de um mesmo povo”. Isto pressupõe a ruptura com a noção tradicional, herdada da filosofia igualitária das Luzes, de nação e cidadania. Ser nacionalista hoje significa abrir-se à dimensão de um “povo europeu” que existe, está ameaçado mas não está ainda politicamente organizado para defender-se. Pode ser-se “patriota”, ligado à própria pátria sub-continental, sem, porém, esquecer que essa é parte orgânica e vital do povo comum cujo território natural e histórico, cuja fortaleza, direi, se estende de Brest ao estreito de Bering. É verdade que a Europa actual, esta “coisa”, deve ser combatida na sua forma, mas a tendência histórica dos povos europeus a reunir-se frente à adversidade deve ser defendida até ao fundo.

Algumas das minhas posições neste livro, a favor dos Estados Unidos da Europa ou da Federação Euro-siberiana, poderão, talvez, chocar alguns. Mas que fique claro: não sou um partidário da Europa invertebrada do Tratado de Amesterdão, nem um inimigo da França ou de qualquer outra pátria europeia. Mais uma vez proponho pistas, provoco rupturas, para criar um debate, esforço-me por indicar “linhas de valor”, mas em nenhum caso proponho uma doutrina fechada. A juventude europeia, a verdadeira, exige ideias novas à altura dos perigos iminentes, não fantasias ou choradinhos humanitaristas num clima de censura e repressão sofisticada. A “geração Miterrand” (NdT: nós diríamos “geração Soares”) está morta, submersa pelo ridículo e paralisada pelo fracasso. Agora é preciso que surja a geração dissidente. Cabe a essa imaginar o inimaginável.»

Guillaume Faye
in "L’Archeofuturisme" (traduzido por Rodrigo N.P.)

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