«Pois se o Dinheiro não solicita ainda o reconhecimento público da sua soberania, é menos por astúcia e prudência do que por sua insuperável timidez. Os que escapam ao seu império conhecem a sua força, topam-no à distância. Ele ignora totalmente, a deles. Os santos e os heróis sabem o que ele pensa, e ele não tem nenhuma do que podem pensar dele, ao certo, os santos e os heróis.
É verdade que o exclusivo amor ao dinheiro nunca fez mais do que maníacos, obcecados que a sociedade mal conhece que lamuriam e apodrecem nas regiões tenebrosas, como agáricos. A avareza não é uma paixão, mas um vício. O mundo não é do vicioso, como imaginam as castidades torturadas. O mundo é do Risco. Isto é coisa para fazer rebentar a rir os sensatos cuja moral é a da poupança. Mas esses, se não arriscam eles próprios, vivem do risco dos outros. E sucede também, graças a Deus, que morrem disso. Certo engenheiro obscuro decide bruscamente, com estupefacção dos seus conhecidos, passar a fabricar um pássaro mecânico, certo ciclista aposta, na hora do vermute, pilotar essa curiosa máquina, e não são necessários mais de trinta anos para que caiam sobre a cabeça dos Poupantes, caídas do céu, bombas de mil quilogramas. O mundo é do risco. Amanhã o mundo será de quem arriscar mais, correr mais firmemente o seu risco.»
Georges Bernanos
in "Os grandes cemitérios sob a Lua", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988.
domingo, 19 de abril de 2009
O mundo é do risco
Categorias:
Georges Bernanos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário