segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Jogo de enganos

Há um povo orfão da Direita. Há um povo que é de uma Direita que se recusa a compreender-se e a compreendê-lo. Há um povo, concluiria, que aguarda uma Direita popular no discurso, coonservadora e patriótica nos valores e solidária na economia...

Há uma Direita que perdeu a memória das suas origens pois não se lhe conhecessem valores comunitários mas tão-somente o elogio de supostas “ liberdades individuais”, não reconhece os seus familiares e amigos pois o seu discurso ignora e despreza um eleitorado que a espera, cuspiu nos seus antigos mestres quando se associou com liberalismos e materialismos económicos e, por fim, faz papel de empregada da alta finança e todos pensam que, qual serviçal, é para ela que trabalha.

As recentes eleições americanas comprovaram-no uma vez mais. Em vésperas da eleição as reportagens televisivas e artigos de jornais (*) mostraram repetidamente essa «white middle class», esses «blue-collar white workers» que não gostavam de Obama, e não gostavam dele, como pudemos constatar em todas as peças desse tipo que vimos, porque Obama não era conservador nos costumes e porque não fazia parte do seu povo, já que não fazia parte da sua raça e esse é um elemento fundamental para que um povo se percepcione integralmente como tal.

Mas ao mesmo tempo que, artigo após artigo, reportagem após reportagem, aqueles homens e mulheres manifestavam a sua falta de empatia com o candidato democrata, havia outra particularidade que se repetia: a sua intenção de nele votarem…não por causa do «complexo de culpa do homem branco» mas pelo sentimento de impotência perante as imposições do capitalismo globalizado e a injustiça e desigualdade social.

E perante estas mãos que se estendiam à procura de uma alternativa que lhes permitisse conciliar a defesa da sua identidade, o seu conservadorismo, com o combate aos despotismos do mercado, a Direita republicana americana, que é muito liberal, e é aliás uma das fontes da contaminação liberal nas Direitas europeias, lançou o alerta vermelho, era o pânico, o caos, «God all Mighty!», havia a desconfiança que Obama pudesse ter tendências socializantes!

Naturalmente, nem num país que fez do anti-socialismo uma das suas bandeiras definidoras aquele discurso, em contramão, poderia obter resultados.

E entretanto há um povo que aguarda uma Direita que não aparece, há uma Direita corrompida por quem não a serve e existem os corruptores que, na realidade, são meros yuppies formados no anticomunismo por receio de perderem privilégios e posses materiais… e claro, há uma Esquerda que continua a beneficiar de todo este jogo de enganos.

Rodrigo N.P.

(*) Veja-se a título de exemplo, e apesar da forma propositadamente caricatural como são apresentadas algumas das pessoas entrevistadas, o artigo publicado no "The Times" a 16 de Outubro: «Obama looks like a terrorist but I'll vote for him anyway»

1 comentário:

Anónimo disse...

Certeiro, como sempre.

NC