sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A Revolução do século XX

«Se não percorremos as ruas de Paris, nem andamos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L’Action Française com Bardeche, Thierry Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias [...] Não colaboramos num Je Suis Partout com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lebre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhavámos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.

Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença e da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Defense de l’Occident, que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barres, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutávamos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas, mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.

Não presenciámos la dure floraison dês jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de voluntários franceses antibolchevista; não deparámos com o fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré-cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da nação e do chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas ao conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.

De qualquer modo, porém, foi para nós o fascismo, como o foi para Brasillach, encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim, esse fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado, e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido, era sempre o mesmo fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.

No fascismo encontrámo-nos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela revolução que foi a revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano.»

António José de Brito
in "Tempo Presente", n.º 10, Fevereiro de 1960, pp. 10-13.

Erros políticos

"Em cada dez erros políticos, nove consistem simplesmente em crer ainda verdadeiro o que já deixou de o ser. Mas o décimo, que poderá ser o mais grave, será o de não crer verdadeiro o que no entanto ainda não deixou de o ser."

Henri Bergson

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pensar localmente para (re)agir globalmente

«Existem outras maneiras de utilizar o sol e o vento que não dependem de engenhocas de alta tecnologia do tipo dos painéis solares e das turbinas e, futuramente, recorreremos cada vez mais a elas. Um cavalo de carga é uma ferramenta agrícola movida a energia solar, capaz de se reproduzir, ou seja, auto-renovável. Implica, no entanto, um sistema de agricultura inteiramente diferente. Uma horta é uma actividade movida a energia solar que produz alimentos à escala familiar. Na nossa época, as hortas perderam importância, transformando-se quase em decoração de exteriores. Com o fim do petróleo, teremos certamente de produzir mais alimentos perto dos locais em que habitamos, e será isso que farão aqueles de nós que possuírem alguma terra, nem que seja um quintal numa casa citadina. A energia eólica, solar e hidráulica pode realizar muito trabalho útil, a pequena e média escala, sem recorrer aos combustíveis fósseis. Teremos certamente de recorrer mais a elas em pequena escala e a nível local, seja o que for que nos reserve o futuro.»

James Howard Kunstler
in "O Fim do Petróleo - O Grande Desafio do Século XXI", Bizâncio, 2006.

"O meu banco matou o Pai Natal"

O Convento do Carmo

Mandado construir em 1389 pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira, o Convento da Ordem do Carmo ergue-se numa posição privilegiada, sobranceira ao Rossio (Praça de D. Pedro IV), e próxima ao morro do Castelo de São Jorge.
A igreja do convento, que já foi a principal igreja gótica de Lisboa, ficou em ruínas devido ao Terramoto de 1755 e é uma das principais marcas deixadas pelo terramoto ainda visíveis na cidade. O convento eventualmente passou a ser uma dependência militar e, durante a Revolução dos Cravos, foi no quartel do Carmo que o Presidente do Conselho do Estado Novo, Marcelo Caetano, se refugiou dos militares revoltosos. Actualmente as ruínas são sede do Museu Arqueológico do Carmo.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Franco-atiradores

O Estado cúmplice

«Acusas os dirigentes de serem coniventes com os selvagens e os criminosos, diz o colegial. Não somente eles não fariam nada para combater a criminalidade mas não poupariam sequer qualquer meio para a ajudar a desenvolver-se. Que seja… Mas, de facto, porquê? Por que é que não combatem a criminalidade? Ela é-lhes de grande importância, diz a Advogada. Devem-lhe, de facto, o seu poder. Sem ela, cairiam. É ela que lhes assegura o funcionamento quotidiano. Sim, quotidiano. O autor explicará isso melhor que eu. Ele desenvolveu toda uma teoria a esse respeito: a desordem como condição da ordem, etc. Não é sem relação com a teoria do Caos. Se te interessas por essas coisas, diz a estudante, vai ver American Gangster, o último filme de Ridley Scott. Há no filme uma réplica interessante. Conto-ta como me lembro, completando-a apenas um pouco. Salvo erro, é o mafioso em pessoa que a formula, depois da sua detenção. O mafioso negro de Harlem. Dirige uma vasta rede de distribuição de heroína. E coloca a questão: o que aconteceria se tal mercado desaparecesse? A resposta é clara: são centenas de milhar de empregos que desapareceriam ao mesmo tempo: polícias, claro, mas também advogados, juízes, carcereiros, funcionários aduaneiros, treinadores de cães especializados na detecção de droga, médicos e outros profissionais de saúde, trabalhadores sociais, sociólogos, etc. Não reflectimos o suficiente sobre as ligações entre a economia e a criminalidade. Sabemos que a criminalidade custa caro, mas paralelamente, também, o que esquecemos é que ela faz viver muita gente. Os próprios criminosos, claro, mas não somente. Todo o tipo de outras pessoas também.»

Éric Werner

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Acreditar

«É preciso ter fé, é preciso crer. Quem não tem Fé não vence, quem não crê não consegue. Ai daqueles que, ao começar da batalha, a julgam perdida, ai daqueles que creem que de nada vale o seu esforço, é nulo o seu arranco, perdido e inglório o seu trabalho. Esses são os fracos, os de antemão derrotados, os que, como dizia Nietzsche, envenenam a vida, a corrompem, lhe tiram toda a sua grandeza e a sua glória.»

Albino Forjaz de Sampaio
in "Porque me orgulho de ser português", 1930.

Solidariedade

O Ocidente...

«É talvez o declínio da coragem o que mais chama a atenção dum estrangeiro no Ocidente de hoje. A coragem cívica não só desertou globalmente do mundo ocidental mas também de cada um dos países que a compõem (…). Este declínio de coragem é particularmente sensível na camada dirigente e na camada intelectual dominante e daí vem a impressão de que foi de toda a sociedade que a coragem desertou. (…) Os funcionários públicos e intelectuais patenteiam este declínio, esta fraqueza e esta irresolução, tanto nos seus actos como nos seus discursos e, mais ainda, nas suas considerações teóricas que fornecem com toda a complacência, para provarem que esta maneira de agir, que alicerça a política dum Estado na cobardia e no servilismo, é pragmática, racional e justificada, seja qual for o plano intelectual, ou mesmo moral, em que nos coloquemos. Este declínio da coragem que, aqui e ali parece ir até à perda de todo e qualquer vestígio de virilidade, encontramo-lo (…) nos casos em que esses mesmos funcionários sofrem súbitos acessos de valentia e intransigência para com governos sem força de países fracos, que ninguém apoia, ou para correntes condenadas por todos e que, manifestamente, não têm qualquer possibilidade de poder ripostar, ao passo que sentem a língua secar-se-lhe e as mãos paralisarem-se-lhe diante de governos mais poderosos e das forças ameaçadoras (…) da Internacional do terror.
Será preciso lembrar que o declínio da coragem foi sempre considerado como um sinal percursor do fim?»

Alexandre Soljenitsyne
in "O Declínio da Coragem", Discursos de Harvard, Junho 1978, Lisboa, Ed. Rolim

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

«Tempo di essere madri»

O comité «Tempo di essere madri» nasceu para garantir que todas as mulheres que o desejem, vivam a maternidade como uma escolha livre e não como uma prova. Visa dar a possibilidade de não renunciar a uma existência serena, a possibilidade de trabalhar de acordo com as suas capacidades, a possibilidade de viver dignamente e de cuidar da sua criança.

O projecto prevê, para as mulheres que tenham um filho entre os 0 e os 6 anos, uma redução do horário de trabalho de 8 para 6 horas por dia. O salário não alteraria: 85% seria garantido pelo empregador e os 15% restantes seriam responsabilidade do Estado. A partir do sétimo ano de idade da criança, a mãe poderia continuar a trabalhar 6 horas por dia, mas deveria renunciar aos 15%. O estatuto preveria também que a mulher, a qualquer momento, pudesse voltar a trabalhar a tempo inteiro. Prevêem-se iguais condições também para os pais, embora o estatuto não possa ser atribuido simultaneamente aos dois progenitores.

No centro da proposta, está a promoção do papel da mulher na sociedade, na sua mais bela essência. E também o bem-estar da criança, que merece o amor e atenção dos quais necessita para não crescer na precariedade.

O comité «Tempo di essere madri» nasceu da vontade de enfrentar todos os problemas relacionados com o trablho e com a maternidade, e de combater as injustiças sociais características do mundo do trabalho e, em particular, a precariedade.

http://www.tempodiesseremadri.org/

Jogo de enganos

Há um povo orfão da Direita. Há um povo que é de uma Direita que se recusa a compreender-se e a compreendê-lo. Há um povo, concluiria, que aguarda uma Direita popular no discurso, coonservadora e patriótica nos valores e solidária na economia...

Há uma Direita que perdeu a memória das suas origens pois não se lhe conhecessem valores comunitários mas tão-somente o elogio de supostas “ liberdades individuais”, não reconhece os seus familiares e amigos pois o seu discurso ignora e despreza um eleitorado que a espera, cuspiu nos seus antigos mestres quando se associou com liberalismos e materialismos económicos e, por fim, faz papel de empregada da alta finança e todos pensam que, qual serviçal, é para ela que trabalha.

As recentes eleições americanas comprovaram-no uma vez mais. Em vésperas da eleição as reportagens televisivas e artigos de jornais (*) mostraram repetidamente essa «white middle class», esses «blue-collar white workers» que não gostavam de Obama, e não gostavam dele, como pudemos constatar em todas as peças desse tipo que vimos, porque Obama não era conservador nos costumes e porque não fazia parte do seu povo, já que não fazia parte da sua raça e esse é um elemento fundamental para que um povo se percepcione integralmente como tal.

Mas ao mesmo tempo que, artigo após artigo, reportagem após reportagem, aqueles homens e mulheres manifestavam a sua falta de empatia com o candidato democrata, havia outra particularidade que se repetia: a sua intenção de nele votarem…não por causa do «complexo de culpa do homem branco» mas pelo sentimento de impotência perante as imposições do capitalismo globalizado e a injustiça e desigualdade social.

E perante estas mãos que se estendiam à procura de uma alternativa que lhes permitisse conciliar a defesa da sua identidade, o seu conservadorismo, com o combate aos despotismos do mercado, a Direita republicana americana, que é muito liberal, e é aliás uma das fontes da contaminação liberal nas Direitas europeias, lançou o alerta vermelho, era o pânico, o caos, «God all Mighty!», havia a desconfiança que Obama pudesse ter tendências socializantes!

Naturalmente, nem num país que fez do anti-socialismo uma das suas bandeiras definidoras aquele discurso, em contramão, poderia obter resultados.

E entretanto há um povo que aguarda uma Direita que não aparece, há uma Direita corrompida por quem não a serve e existem os corruptores que, na realidade, são meros yuppies formados no anticomunismo por receio de perderem privilégios e posses materiais… e claro, há uma Esquerda que continua a beneficiar de todo este jogo de enganos.

Rodrigo N.P.

(*) Veja-se a título de exemplo, e apesar da forma propositadamente caricatural como são apresentadas algumas das pessoas entrevistadas, o artigo publicado no "The Times" a 16 de Outubro: «Obama looks like a terrorist but I'll vote for him anyway»

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sidónio Pais

Nascido a 1 de Maio de 1872, Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais tornou-se um fenómeno relâmpago que, em apenas um ano e seis dias, conseguiu reunir os mais antagónicos apoios, liderar um golpe de Estado, congregar o apoio de toda a população, reformar o regime, reprimir rebeliões, escapar a um atentado e ser assassinado num outro.

Nascido em Caminha, a 1 de Maio de 1872, órfão de pai e irmão de 5, Sidónio divide a sua formação entre o Exército e a Universidade, onde acaba por se tornar catedrático como lente de Matemática, em Coimbra. Chega a vice-reitor dessa universidade no próprio ano da revolução de 1910. Tendo a sua actividade política começado entre grupos de conspiração republicana, apenas daria um contributo verdadeiramente activo na sequência da implantação da República.

Em 1912 é enviado como embaixador para Berlim. Aí permanecerá por 4 anos, no decorrer dos quais o seu pensamento e visão política se transforma, degenerando da sua prévia formação republicana. Com o advento da I Guerra Mundial e com o posicionamento português ao lado dos Aliados, Sidónio regressa a Lisboa, em 1916, onde é feito major. Não está contente com o rumo dado às relações externas portuguesas. Sidónio crê firmemente que, finda a guerra, a vitória será alemã e logo, considera que Portugal está no lado errado das trincheiras. Aprendera a admirar a eficácia do sistema presidencialista alemão, a disciplina daquele povo e de suas instituições. É isso que sonha para Portugal, e, no envio de tropas portuguesas para a frente de guerra vê o desbaratar de vidas por uma causa em que já não se revê.

Nos 10 meses que se seguem, Sidónio prepara um golpe militar que visa a destituição do Governo e a imposição de uma nova ordem. Não lhe foi difícil fazê-lo, na verdade, desde a Direita mais conservadora às esquerdas mais radicais, os apoios multiplicavam-se em torno do seu carisma. Reuniu monárquicos e socialistas, militares e clérigos, patrões e proletários, e na tarde de 5 de Dezembro de 1917, inicia um movimento que se conclui em 3 dias com o derrube do governo e a instituição de uma Junta Militar. “Dar estabilidade e prestígio à República e engrandecer e honrar o país”, é o ponto-chave do seu programa de Governo, que apresenta no dia 12 de Dezembro, para além da instituição do regime presidencialista. Começa então uma série de viagens por todo o país e, de Norte a Sul, Sidónio é aclamado por multidões em histeria. Note-se que 1918 foi um ano particularmente dramático, aliando-se à instabilidade económica (resultante da guerra) uma forte epidemia e mortandade, a população pedia ordem, trabalho, comida, justiça e nada disto encontrava com os sucessivos governos dos partidos instalados no poder, os quais Sidónio apelidava de “demagogos”.

A acção social por ele promovida logrou um apoio ainda maior da população, instituindo a “sopa dos pobres”, visitando hospitais e orfanatos, etc. A sua política de proximidade criou um verdadeiro coro de apoio aquele que Fernando Pessoa imortalizaria como o “Presidente-Rei”. Contudo, a sua tendência ditatorial, bebida na disciplina da hierarquia militar, cedo lhe valeu grandes inimizades. A proximidade que veio a estabelecer com os sectores mais conservadores e monárquicos, afastou o apoio socialista e sindical. Por outro lado, o ostracismo a que votou os tradicionais partidos republicanos, valeu-lhe a oposição da Maçonaria.

Dando-se por concluída a acção do seu governo provisório e convocando-se eleições, com sufrágio pela primeira vez universal, é a 28 de Abril de 1918 que Sidónio Pais será eleito Presidente da República. De Maio a Dezembro desse ano, sucedem-se os focos de rebelião e de contra ofensivas governamentais que aumentam a instabilidade do novo regime. O restabelecimento da censura prévia, a prisão política de dezenas de conspiradores, a proibição de manifestações sindicais, etc., move contra Sidónio todo um imenso leque de interesses económicos, sociais e políticos que ele procurou contrariar frontalmente. O regime assentava num só homem e morto o homem, acabava-se com a sua obra. Não obstante, permaneceu sempre ovacionado e querido pelo povo, que lhe reconhecia a delicadeza no trato, a honestidade no olhar e a força na acção.

Na noite de 14 de Dezembro, ele está decidido a embarcar no comboio rumo ao Porto, onde o aguardam tumultos populares. Todos lhe pedem para que fique, garantem-lhe não ser segura a viagem e que o aguardam os conspiradores. Sidónio responde-lhes: “Ou eles, ou eu!” e ruma ao Rossio. É então que, por entre um grande aparato policial e uma imensa multidão de aplausos e vivas, uma arma fura o cordão policial, e quando o major transpõe a entrada do grande átrio da estação, são disparados 2 tiros que o deitam por terra. Disseram, os que o agarraram, que antes de falecer suspirara a frase: “Morro, mas morro bem. Salvem a Pátria”.

Zentropa está em linha!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Céline por Rebatet

“Na vasta biblioteca do castelo dos Hohenzollern, Céline escolhera uma velha colecção da Revue des Deux Mondes, 1875-1880. Não se calava sobre a qualidade dos textos que lia: «Isto é que é estudo sério, bem analisado, profundo, instrutivo… belo estilo, preciso… sem palha.» Foi a única leitura que o vi fazer na minha presença. Era extremamente cauteloso na dissimulação dos seus «mestres», da sua «formação». Como se a sua originalidade não tivesse por si própria dado provas, magnificamente.
De tempos a tempos, quando passeávamos os dois sem testemunhas, voltava-lhe o desgosto da sua carreira cortada, mas sem demonstrar fraqueza inútil, em tom de brincadeira:
— Estás a ver? Donde parti… se não tivesse a mania de querer dizer as verdades… que poleiro teria… O grande escritor mundial da «gôche»… o bardo do sofrimento humano, da pulhice absurda… sem ter que disfarçar nada. Que grande gozo, Bardamu, Guignol, Rigodon… Prémio Nobel… Os pobres merdosos Aragon, Malraux, Hemingway, ao pé do Céline… que ganhou antes deles. Ai! Diz lá… onde é que eu iria parar! «Mee-estre»… O Nobel… Milionário… A grande condecoração… Doutor Honoris Causa… Vês isso acontecer-me aqui!”

Lucien Rebatet
in "Memórias de um Fascista", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O que fazer?

"Que se há-de fazer? Proclamar a excelência dos princípios perante a carência das pessoas, defender a herança contra o herdeiro, conforme ensinava o Mestre da Action Française. E esperar que o tempo das trevas se dissipe, porque há uma coisa que os democratas, descendentes de dinastias outrora gloriosas, não nos podem roubar - é a esperança."

António José de Brito
in Para a Compreensão do Pensamento Contra-Revolucionário, Hugin, 1996.

Semelhanças

"Se a pessoa deixar de olhar para os manuais de biologia e começar a olhar para os animais e para os homens, chegará à espantosa conclusão (no caso de ter sentido de humor e imaginação, bem como uma certa dose de frenesim e de farsa), não de que o homem se parece imenso com os animais, mas de que se parece muito pouco com eles. Aquilo que tem de ser explicado não é a semelhança, é a monstruosa escala da dissemelhança. Que o homem é parecido com os animais é, em certo sentido, um truísmo; mas que, sendo tão parecidos, eles sejam tão inconcebivelmente diferentes, isso é que é um choque e um enigma. O facto de o macaco ter mãos é muito menos interessante para o filósofo do que o facto de, apesar de ter mãos, ele quase nada fazer com elas: não joga ás pedrinhas nem toca violino, não esculpe o mármore nem trincha um peru. As pessoas falam da falta de gosto na arquitectura e da arte degenerada. O certo, porém, é que os elefantes não constroem templos colossais em marfim, nem sequer em estilo rococó; e que os camelos não pintam, nem sequer quadros de má qualidade, embora disponham de material que lhes permite produzir uma enorme quantidade de pincéis de pêlo de camelo. Há certos sonhadores modernos que afirmam que as formigas e as abelhas constituem sociedades superiores às nossas. Não há dúvida de que esses animais têm uma civilização; mas essa verdade apenas nos recorda que se trata de uma civilização inferior. Já alguém viu a sala de estar de uma formiga decorada com bustos de formigas famosas? Já alguém viu uma colmeia decorada com imagens de esplendorosas abelhas-mestras de antanho? Não; o abismo que existe entre o homem e as restantes criaturas poderá ter uma explicação natural; mas lá que se trata de um abismo, disso não há qualquer dúvida. Falamos dos animais selvagens; mas a verdade é que o homem é o único animal selvagem da criação. O homem foi o único animal que fugiu. Os outros animais são todos domésticos; todos eles acatam a inflexível respeitabilidade da tribo e da espécie. os outros animais são todos domesticados; o homem é o único animal que permanece por domesticar, que pode ser um devasso ou um monge."

G.K. Chesterton
in "Ortodoxia", Aletheia, 2008.

Vamos nessa!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Comunicado Solidarité Kosovo - Missão de Natal 2008

«A situação no Kosovo agrava-se de dia para dia: dois sérvios foram encontrados mortos na última semana em Kriljevo, o mosteiro de Gracanica foi vandalizado e tiros foram disparados contra a casa de um sérvio em Osojane, onde ainda há poucos meses atrás distribuímos roupas. Recebemos numerosos donativos desde o nosso primeiro apelo, mas torna-se possível enviar outro camião e comunicamos novamente com o objectivo de renovar o nosso pedido por material desportivo, brinquedos, vestuário quente e material de puericultura para todos os sérvios abandonados pela imprensa e pelo direito internacional.
O Natal é uma época de partilha e da fraternidade. Como se pode passar perante tantas montras iluminadas que vendem tantas coisas supérfluas sem pensar nos nossos irmãos sérvios que, a poucas horas de avião de Paris, vivem na miséria desconhecendo o que será feito de si no dia seguinte?
O nosso objectivo não é lamentar o destino dos sérvios e das minorias do Kosovo, mas sim agir concretamente a fim de os ajudar, a fim de mostrar que não estão sós e que em França e na Europa, muitas pessoas pensam ainda neles e querem ajudá-los a viver em paz.»

A equipa Solidarité Kosovo
www.solidarite-kosovo.org

Frei, sozial, national!

Almeida

A Praça-forte de Almeida localiza-se na vila, Freguesia e Concelho de mesmo nome, no Distrito da Guarda, em Portugal.
A actual estrutura remonta ao século XVII, no contexto da Restauração da Independência, quando, revalorizada a sua posição estratégica, foi transformada numa poderosa Praça-forte. Iniciadas em 1641 pelo Governador das Armas da Província da Beira, Álvaro Abranches, as suas obras monumentais só estariam concluídas no final do século XVIII com o Conde de Lippe.
Estrutura chave durante os repetidos conflictos sucessórios no século XVIII, no contexto da Guerra Peninsular foi entregue por ordem governamental ao exército napoleónico sob o comando do General Jean-Andoche Junot em fins de 1807. Devolvida ao domínio de Portugal, foi novamente cercada por tropas francesas, agora sob o comando do general André Masséna (agosto de 1810). Sob o fogo da artilharia inimiga, o paiol de pólvora explodiu arrasando o velho castelo medieval e parte da vila, matando e ferindo mais de quinhentas pessoas. As brechas abertas nas muralhas pelo impacto da explosão forçaram a capitulação da praça que passou a ser guarnecida pelos franceses. Poucos meses mais tarde, sofreria novo sítio, agora por tropas inglesas. Cercados, os defensores franceses retiraram, explodindo a praça atrás de si.
No século XIX, durante o período das Guerras Liberais (1832-1834), a Praça-forte de Almeida foi mais uma vez palco de confrontos pela sua posse, que se alternou entre Absolutistas e Liberais.
Apenas em 1927 a fortaleza deixou, definitivamente, de exercer funções militares. O conjunto encontra-se classificado como Monumento Nacional pelos Decretos 14.985, publicado em 3 de fevereiro de 1928, e 28.536, publicado em 22 de março de 1938.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Fascismo e a (in)tolerância religiosa

"O Estado fascista não se mantém indiferente nem oposto ao facto religioso em geral, nem oposto a essa religião positiva particular que é o catolicismo italiano. O Estado não tem uma teologia, mas sim uma moral. No Estado fascista, a religião é considerada uma das mais profundas manifestação do espírito e, em consequência, é não só respeitada como defendida e protegida. O Estado fascista não crê num "Deus" específico como Robespierre quis fazer, num momento, no extremo delírio da Convenção; não procura também em vão apagar as almas, como fez o bolchevismo. O fascismo respeita o Deus dos ascetas, dos santos, dos heróis e mesmo o Deus visto e solicitado pelo coração primitivo do Povo."

Giovanni Gentile
in "La Dottrina del fascismo".

Fome

Descobri numa dessas passagens de ocasião pela FNAC que a Cavalo de Ferro editou "Fome" de Knut Hamsun.

"Fome" é um relato desesperante de um homem qualquer, sobre o qual nada sabemos, em luta contra a pobreza, uma pobreza opressiva que domina a atmosfera da história em todos os momentos. O tema tinha, à priori, todas as condições para poder ter transformado o livro numa dessas obras de referência do esquerdismo miserabilista…

Não é assim…e não é assim porque o combate do personagem permanece sobretudo interno, e nunca chega, verdadeiramente, a ganhar uma dimensão sociológica. É do princípio ao fim uma guerra íntima e não uma história de ressentimento e revanchismo societário.

A chave reside no carácter daquele homem. Acima de tudo é um homem orgulhoso. Enquanto trava uma luta diária pela sobrevivência, uma batalha que é, portanto, ditada pelas condições da vida exterior, trava uma outra luta, a de preservar e projectar uma certa imagem de si mesmo, ditada por um temperamento altivo.

Todo o livro está marcado por esse cruzamento, quase esquizofrénico, de realidades conflituantes, de um lado aquela vida exterior degradante e do outro a tentativa de preservar interiormente o seu “eu”, a sua honra. Com o passar das páginas há uma invasão crescente do espaço interno do personagem pela realidade externa, desde a percepção antagónica que ele e os outros fazem dos seus actos, a uma degradação comportamental e intelectual provocada pela fome.

No culminar desse conflito recebe, por engano, uma soma de dinheiro. Pensamos, por fim, na salvação, no meio para ultrapassar a dor, as agruras daquela vida, mas nesse conflito final será a sua honra, o seu orgulho, a prevalecer, provavelmente, e paradoxalmente, condenando-o.

Rodrigo N.P.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Casa quê? CasaPound...

…todo um outro mundo

“Fazer cultura na CasaPound? É como ser o nutricionista do Homer Simpson”.

A piada, sem dúvida com graça, chegou-me de um velho amigo meu, que tomou conhecimento - também ele - desta arcana organização que ganhou as primeiras páginas dos jornais graças à geométrica potência de fogo mediático assinada centros sociais/redacções dos jornais.

Então é isso? Esta foi a imagem que passou? Algo entre os Cesaroni [título de uma comédia televisiva italiana que retrata uma família típica romana de apelido “Cesaroni”], os nazis do Illinois [expressão usada na Direita Radical romana para indicar os neonazis broncos, estúpidos e folclóricos, como os KKK do Illinois] e os droogs de Laranja Mecânica? Pacóvios [“Coatti” é um calão romano que indica os rapazes idiotas, exagerados no querer sobressair, confusionistas] sempre prontos a dar porrada por nada, alheios a qualquer estímulo de natureza cultural e artística?

Felizmente esta imagem aterradora não é unânime nem monolítica. Todavia a mensagem falsificada foi lançada e parece ter ganho raízes algures. A equipa é forte, brilhante, cheia de jovens promissores, fora-de-série afirmados e velhas glórias que se põem a disposição. Porém, alguns gostavam que esta equipa permanecesse sempre na segunda divisão. E qual instrumento mais eficaz do velho “difamem, difamem, algo ficará”?

Mas a verdade é sempre revolucionária.

Mas qual é a verdade acerca de CasaPound (e acerca do Blocco Studentesco que é a sua emanação directa)?

A verdade, para começar, é que CasaPound não faz cultura. É cultura. A cultura acolhe-te mal entras, nos coloridos e inumeráveis nomes dos pais fundadores, escritos logo no começo da ocupação na entrada do edifício. Cultura não no sentido académico e reumático dos eruditos que disputam entre si ostentando um ego hipertrofiado apesar de minúsculo. Em CasaPound a cultura respira-se em todas as coisas porque em qualquer lugar há vontade de “cultivar-se”. De melhorar. De ascender. Há cultura porque há curiosidade, vontade de saber mais. Porque ninguém fica satisfeito. Porque se procura algo diferente. Porque se cria algo diferente.

Mais concretamente, tudo isso traduz-se em mais de cinquenta conferências realizadas em apenas quatro anos. Nelas tomaram a palavra, entre outros, Pietrangelo Buttafuoco, Massimo Fini, Angelo Mellone, Nicola Rao, Giano Accame, Luciano Lanna, Filippo Rossi, Ugo Maria Tassinari, Sandro Provvisionato, Luca Telese, Giacinto Auriti, Andrea Benzi, Miro Renzaglia, Caterina Ricciardi, Luca Gallesi, Sandro Giovannini, Giovanni Damiano, Maurizio Murelli, Enzo Cipriano, Aldo di Lello, Maurizio Pio Rocchi, Carlo Gambescia, Alberto Castelvecchi, Guido Giraudo, Jack Marchal, Gerardo Picardo, Giuseppe Ardica e muitos outros.

Falou-se de: emergência habitacional, 11 de Setembro, Ezra Pound, índios da América, Julius Evola, medicinas alternativas, anos de chumbo, revisionismo histórico, Filippo Corridoni, novas tecnologias, arte não conforme, massacre de Bolonha, mondo ultras, geopolítica, sociedade dos consumos, teorias monetárias alternativas, evolucionismo, massacre de Ustica, futuro da democracia, arquitectura, trabalho, alpinismo, e muito mais.

Um lugar activo, de facto. Um lugar aberto. Onde se discute à luz do sol. Onde passaram nomes importantes do pensamento não conforme, da direita institucional, da esquerda não obtusamente blindada atrás do antifascismo ortodoxo. CasaPound não tem nada a ver com uma cave húmida, na penumbra, onde se conspira em voz baixa, onde se actua na sombra, onde se foge do mundo. O que espanta é aliás o carácter solar do lugar. A cor, a música. De facto, estes dois últimos são elementos omnipresentes. Não há lugar da “área não conforme” em que não haja pinturas, murais, sinais de vida, de sonhos, de esperanças, manchas de cor que dão novamente vida ao que foi subtraído aos senhores da morte. E música, muita música. Os monstros sagrados da música de “área”, sem dúvida (in primis ça va sans dire, Zetazeroalfa), mas também Motorhead, Dropkick Murphys, Social Distortion, Ac/Dc. It’s only rock‘n roll, baby.

E no meio, sobretudo, debaixo disso tudo, um movimentar-se frenético mas ordenado de rapazes e raparigas. Muitas vezes muito novos, sempre sorridentes, cada um com um encargo, cada um no lugar certo. A idade média dos militantes é de 20 anos, quem tem 35 já faz de mestre sábio, se és mais velho és um marciano. No distrito de Roma, o Blocco Studentesco ganhou algo como 37.000 votos. Podes encontrar as caras destes jovens militantes na praça, nas escolas, a frente das câmaras de televisão. Se vais ao pub, também aí os encontras, atrás da máquina da cerveja, sempre os mesmos, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Muitas vezes com uma humildade invulgar para os seus coetâneos, põem-te perguntas, mas dos olhares deles já sabes que inevitavelmente receberás muito mais do que aquilo que foste capaz de oferecer. São as pessoas que querias ter como filhos, como irmãos, como camaradas de luta e de vida. São os mesmos que encontras marcados nos vídeos dos bófias milicianos [“di complemento” é a patente militar dos que não são de carreira, mas em serviço temporário, género “alferes milicianos”. Aqui indica os comunas e os jornalistas que fazem trabalho de bófia denunciando e identificando os rapazes do Blocco], expostos ao desprezo público por não ter querido ceder a praça às máfias vermelhas e aos carrascos do pensamento único.

Mas ainda não acabou. CasaPound é o “Teatro não conforme Filippo Tommaso Marinetti”. É livrarias: “Testa di Ferro”, “Santabarbara”, “Spazio Lacerba”, para mencionar só os primeiros nomes que vêm à mente. É cervejaria, círculos de tempo livre, pub (ah, mais cedo ou mais tarde terei que escrever acerca da metafísica do Cutty Sark…). É Radio Bandiera Nera, uma rádio on-line 24 horas por dia, com redacções nas cidades de Arezzo, Bari, Bergamo, Bologna, Bolzano, Brescia, Cagliari, Firenze, Genova, L’Aquila, Lamezia, Latina, Lucca, Milano, Napoli, Padova, Palermo, Piacenza, Roma, Salerno, La Spezia, Torino, Trieste, Verbania, Verona, na região Umbria, na Valle Seriana e ainda na Grécia, Holanda, Canadá, França e até… China.

E mais a batalha para o mútuo social e contra a emergência habitacional.
E mais as famílias italianas às quais é oferecido um lar em condições dignas e decorosas.
E mais a ajuda à Comunidade “Popoli”, empenhada na Birmânia ao lado do povo Karen e contra os narcotraficantes locais.
E mais a distribuição gratuita de pão e leite às famílias em dificuldade.
E mais as doações de sangue.
E mais a angariação de fundos para hospitais e organizações humanitárias.

E mais…

E mais?

Diz: “Não te esqueceste de nada? Não pintaste um quadro demasiado cor-de-rosa? E a violência?”. É verdade, questão chata a violência. Aquela exercida contra um povo privado de si mesmo. Aquela dos bancos, dos usurários, dos especuladores imobiliários. Aquela dos que te despojam da casa, da saúde, da dignidade, aquela das periferias multirracistas, onde a polis morre cada dia nos guetoficadores [ghettifici em italiano é uma palavra inventada que quer dizer “fabricador de guetos”] construídos para perpetuar o feio. Aquela aborrecida dos filhos mimados, gordos, deprimidos de um mundo que não tem mais nada para ensinar. Aquelas das máfias que construíram e subvencionaram a República. Aquela dos bombardeamentos terapêuticos, dos massacres humanitários, dos embargos democráticos. É para justificar esta eterna culpa que se instrumentalizam meros factos de crónica, que se inverte a responsabilidade de agressores e agredidos, que se deturpam os factos, disparando contra o alvo mais simples: porque jovem, sem protectores, porque desligado dos centros do poder. Porque belo, livre, rebelde. Tanto que causa inveja.

Adriano Scianca
in "Il Fondo Magazine", edição de 17 de Novembro de 2008.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Vanguarda e Tradição

(entrevista concedida ao blogue "O Sexo dos Anjos")


1) O que é o "Inconformista"?
- É uma fonte de informação e reflexão alternativa na internet, feita por um grupos de pessoas vindas de diferentes quadrantes da chamada área nacional, que se afirma pelas ideias, pela estética e pela provocação.

2) Que projecto próprio, que contributo específico, vem trazer o Inconformista?

- Apesar de ser um projecto que se inspira no Zentropa.info, em cuja rede internacional se integra, o Inconformista traz um contributo português. A sua especificidade assenta na diferença de abordagem e postura que se caracterizam por um espírito livre e inconformista.

3) Que conselhos e orientações gostaria de transmitir aos seus destinatários?
- O Inconformista tem como objectivo pôr as pessoas a pensar, não é uma cartilha nem uma tábua de mandamentos. A revolução cultural faz-se com homens pensantes, capazes de reflectir e agir, não com autómatos que papagueiam o que não entendem.

4) E que mensagem pretende deixar aqui, para os leitores do "Sexo dos Anjos"?
- Aos leitores deste espaço, que foi um dos primeiros e continua a ser uma inspiração para tantos blogues, apelamos a que não vejam a internet como um entretém, mas como uma ferramenta útil no combate cultural que nos levará um dia à concretização do sonho.

"Não éramos movidos pelo oportunismo"

«Porque nos dizíamos fascistas? Porque tínhamos criado horror à democracia parlamentar, à sua hipocrisia, à sua imperícia, às suas vilezas. Porque éramos novos, porque o fascismo representava o movimento, a revolução, o futuro sobre o qual reinava, desde antes da guerra sobre dois terços da Europa. Porque eram precisos regimes fortes para lutar contra o comunismo, esse fascismo vermelho, e que se aliassem contra a III Internacional. Nós queríamos o partido único, abolindo as seitas políticas, o controlo rigoroso ou a estatização dos bancos, a defesa dos trabalhadores e dos empregados contra a inumana rapacidade do capitalismo. Não via a necessidade das controvérsias doutorais, das apreciações dos moralistas, dos palpites históricos, económicos e sociológicos para expor em princípios simples, esse programa de acção. Não éramos movidos pelo oportunismo. Tínhamos escolhido as nossas cores dez anos antes.»

Lucien Rebatet
in "Memórias de um Fascista", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"Uma nação só vive porque pensa"

"Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A força e a riqueza não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça ser glorificada na História - como rijos músculos num corpo e ouro farto numa bolsa não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas aringas e incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e morta, que, para lucro da Civilização, os civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta para nutrir o animal pensante. E por outro lado se o Egipto ou Tunis formassem resplandescentes centros de ciências, de literaturas e de artes, e, através de uma serena legião de homens geniais, incessantemente educassem o mundo - nenhuma nação mesmo nesta idade do ferro e de força, ousaria ocupar como um campo maninho e sem dono esses solos augustos donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das ideias e das formas.
(...) Se uma nação, portanto, só tem a superioridade porque tem pensamento, todo aquele que venha revelar na nossa pátria um novo homem de original pensar concorre patrioticamente para lhe aumentar a única grandeza que a tornará respeitada, a única beleza que a tornará amada; - e é como quem aos seus templos juntasse mais um sacrário ou sobre as suas muralhas erguesse mais um castelo."

Eça de Queirós
in "A Correspondência de Fradique Mendes"

Extrême-Orient(é)

A Humanidade

«A Humanidade não é um conceito político (...). A Humanidade das doutrinas fundadas sobre o direito natural, liberais e individualistas, é uma construção social ideal de carácter universal, ou seja, englobando todos os homens da terra (...). Esta sociedade universal não conhecerá mais os povos (...). O conceito de Humanidade é um instrumento ideológico particularmente útil às expansões imperialistas e, sob a sua forma ética e humanitária, é o veículo específico do imperialismo económico (...) Tendo dado um nome tão sublime comporta certas consequências para aquele que o assume, o facto de se atribuir o nome de Humanidade, de o invocar e de o monopolizar, é manifestar uma pretensão assustadora para fazer o seu inimigo recusar a sua condição de ser humano, para o declarar fora-da-lei e fora da Humanidade e partindo a provocar a guerra até aos limites extremos do humano.»

Carl Schmitt

Francesco Mancinelli

Em 1982, Francesco Mancinelli lança-se na música alternativa, um dos motores do movimento nacionalista revolucionário italiano. Será um dos artistas que mais vai contribuir para o salvamento e transmissão das ideias desse movimento ao longo da década de 80. Em 1982, a associação romana DART (Divisione Artistica Raggruppamento Tradizionale), lança um álbum ao vivo intitulado «Tempo di Lottare», que reagrupa numerosos artistas entre os quais Mancinelli. O disco é dedicado à memória de Alberto Giaquinto e contém a (doravante) célebre faixa «Generazione’78». No ano seguinte, Mancinelli dá numerosos espectáculos frequentemente acompanhados da projecção de diapositivos e entrecruzados por poesia.
Em 1989, lança uma cassete autoproduzida, «Concerto per il domani» (editada depois com o título «Al muro del Tempo»). Em Outubro do mesmo ano edita uma demo dedicada à luta europeia contra o jacobinismo. A sua versão definitiva encontrar-se-á alguns anos mais tarde no álbum de Contea «Il campo dei ribelli». Em 1995, Francesco Mancinelli funda o grupo Terra di Mezzo, influenciado por sonoridades tradicionais europeias. O nome do grupo é inspirado pela obra de Tolkien «O Senhor dos Anéis». Apresenta-se pela primeira vez ao vivo no pub Cutty Sark, por ocasião do solstício de Verão. Em Junho de 1996, a produtora Rupe Tarpea lança o álbum «Terra di Mezzo», no qual participa Nico Nitti (Hyperborea/Malabestia/Zetazeroalfa) enquanto guitarrista.
Em 1997, sempre sob a chancela da Rupe Tarpea, Mancinelli e os Terra di Mezzo participam no álbum «Tributo a Janus», reinterpretando a canção «Al Maestrale». Após uma última aparição na compilação «Vox Europa 1», o grupo separa-se. Em 2000, Mancinelli participa num álbum split com o irlandês Bobby Pears («The Eagle and the Harp») , fundando depois o grupo folk Contea com Marzio Venuti Mazzi e Gregorio Bardini.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Amateur, interracial, mature, gangbang, blowjob, teen...

«A pornografia desregula as relações sexuais clássicas. Transforma as pessoas em escravas e empurra-as para um modo de vida destruidor que arruína as suas relações ao mesmo tempo que enriquece os canalhas. Se não é nas aulas de biologia na escola, hoje, a maior parte dos jovens têm o primeiro contacto com o sexo através da pornografia. Antes do surgimento dos Media de Massa, essas imagens eram relativamente difíceis de encontrar. Eram vendidas às escondidas. Actualmente a pornografia está por todo o lado, em particular na Internet. Banalizou-se ao ponto de já não ser controversa, excepto sob as suas formas mais extremas. Antes mesmo da sua primeira relação sexual com uma mulher, milhões de jovens homens passam a adolescência a apurar a sua experiência sexual.

A experiência tem uma influência muito pequena na reprodução dos pequenos animais. Um rato não experimentado chegará instintivamente a copular tão bem quanto um rato mais velho. É diferente no caso dos primatas. Os jovens símios têm necessidade de ver os mais velhos e reproduzir as suas posturas. Os símios criados em isolamento numa jaula, de onde podem ver mas não tocar outros símios são, em geral, incapazes de copular na idade adulta.

Os seres humanos que vêm pornografia, em particular os jovens, programam o seu cérebro com experiências que os afectarão na sua vida sexual. Nos filmes pornográficos, a ausência da ideia de que os casais podem estar apaixonados é uma influência muito perniciosa. Na maior parte do tempo, são dois desconhecidos, e frequentemente mais, que decidem ter uma relação sexual. Isto contribui para dissociar o sexo do amor. Sem falar dos elementos de humilhação e violência que encontramos na maioria desses filmes.

Os homens e as mulheres têm uma concepção estranha uns dos outros também por culpa da pornografia. Consequentemente, numerosas mulheres pensam que todos os homens têm as mesmas perversões. Elas pensam que devem comportar-se e parecer como “estrelas porno” afim de poderem seduzir os homens da sua escolha. Cada vez mais não hesitam em recorrer à cirurgia plástica para chegar aos seus fins. E o facto é que cada vez mais homens esperam verdadeiramente que as suas mulheres se pareçam com esse estereótipo.

A pornografia é também uma causa de impotência entre os homens. Age como uma droga que condiciona o seu utilizador a deixar de apreciar os prazeres naturais que a vida oferece. Fazer amor com a sua esposa pode rapidamente tornar-se banal em comparação com os milhares de imagens e de filmes a que se pode facilmente ter acesso hoje em dia na Internet. Isto tem tendência a emascular os homens, visto que já não conseguem verdadeiramente ser excitados por uma mulher autêntica. Esta situação torna-se realmente patética. O dinheiro gerado por esta indústria e as suas consequências é enorme. Não falamos aqui somente dos milhões directamente aplicados na indústria mas também das terapias, dos divórcios e dos medicamentos, de tipo viagra, que supostamente resolvem os problemas de erecção. A sociedade paga o preço, sem falar dos indivíduos, mas essa mesma sociedade não é doravante animada por nada mais que o desejo de lucro.

O culto do individualismo faz crer que a vida é feita unicamente para o prazer e que não há nada de mal em satisfazer-se. No passado as religiões ofereciam princípios de vida que foram depois invertidos. Hoje em dia, a maior parte das pessoas não conhecem limites morais e viram-se para os Media para ter uma ideia do que é socialmente aceitável. São assim muito vulneráveis a todos aqueles que os querem explorar. Os Media vendem-lhes o que lhes pode dar prazer e mantê-los calmos. O sexo vende e tornou-se um produto muito lucrativo.

Não se espere, portanto, dos nossos governos o que quer que seja para resolver o problema. São cúmplices. Cabe-nos, então, a cada um nós, procurar que ninguém por quem tenhamos afecto caia na armadilha.»

Zentropa.Info

Aqueduto das Águas Livres

O Aqueduto das Águas Livres é um complexo sistema de captação, adução e distribuição de água à cidade de Lisboa, em Portugal, e que tem como obra mais emblemática a grandiosa arcaria em cantaria que se ergue sobre o vale de Alcântara, um dos bilhetes postais de Lisboa.
O Aqueduto foi construído durante o reinado de D. João V, com origem na nascente das Águas Livres, em Belas, e foi sendo progressivamente reforçado e ampliado ao longo do século XIX. Resistiu incólume ao Terramoto de 1755.

A única área de Lisboa com nascentes de água era o bairro de Alfama. Com o crescimento da cidade para fora das cercas medievais foi-se instalando uma situação de défice crónico no abastecimento de água. Foi ganhando então força a ideia de aproveitar as águas do vale da ribeira de Carenque, na região de Belas. Estas águas haviam já sido utilizadas pelos romanos, que aí haviam construído uma barragem e um aqueduto.

Na primeira fase de construção, entre 1732 e 1748, contou com a participação de arquitectos e engenheiros militares famosos, nomeadamente António Canevari (italiano), Manoel de Azevedo Fortes, Silva Pais, Manuel da Maia, Custódio Vieira (autor da arcaria sobre o vale de Alcântara) e Carlos Mardel (húngaro). Manuel da Maia e Carlos Mardel haveriam de ter, após o grande terramoto de 1755, um papel crucial no projecto da Baixa Pombalina.
O caminho público por cima do aqueduto, esteve fechado desde 1853, em parte devido aos crimes praticados por Diogo Alves (o Pancadas), um criminoso que lançava as suas vítimas do alto dos arcos depois de as roubar, simulando um suicídio, e que foi o último decapitado da História de Portugal.
O aqueduto manteve-se em funcionamento até 1968, tendo sido definitivamente desactivado pela EPAL em 1974. Actualmente é possível fazer um passeio guiado pela arcaria do vale de Alcântara. Também é possível, ocasionalmente, visitar o reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, o Reservatório da Patriarcal e troços do aqueduto geral na região de Belas e Caneças.

As duas alavancas

«Distinguimos duas alavancas: uma, a Pátria como empresa histórica e como garantia de existência histórica de todos os espanhóis; outra, a ideia social, a economia socialista, como garantia do pão e do bem-estar económico de todo o povo»

Ramiro Ledesma Ramos

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

1.º de Dezembro em Lisboa

O Partido Nacional Renovador celebrou o Dia da Restauração da Independência Nacional com uma manifestação na Praça dos Restauradores e marcha em direcção à Câmara Municipal de Lisboa. No Largo do Município o Presidente do PNR, José Pinto-Coelho, discursou contra o ataque à liberdade de expressão de que é vítima o partido, nomeadamente com a retirada do cartaz contra a imigração, e apontou o dedo aos políticos e corruptos que dominam a sociedade. Durante o encontro ouviram-se protestos contra o vereador José Sá Fernandes que os nacionalistas acusam de fazer o jogo sujo do presidente António Costa.

Ousar, sempre mais!

Ianonne e os seus militantes acabam de restituir aos romanos um novo edifício abandonado até agora aos especuladores. Na noite de 30 de Novembro, uma nova ocupação foi efectuada pelos militantes da associação CasaPound Itália. O edifício situa-se no 1134 Via Cassia, em Roma. Vinte e cinco família romanas poderão brevemente instalar-se. O porta-voz do movimento, Gianluca Iannone, declarou a propósito: «Ocupámos. Somos cidadãos de Roma que vivem na urgência de habitar, como tantos outros romanos. Os empregos precários ou o desemprego, os salários de miséria, as rendas exorbitantes, as taxas usurárias dos bancos que acorrentam os clientes por 40 anos, mergulharam milhares de famílias romanas na pobreza. O resultado? O número de despejos em Roma continua a aumentar. Além dos dramas familiares que isso cria, as pessoas são obrigadas a exilar-se cada vez mais longe do centro ou mesmo em cidades vizinhas.»

Iannone conclui a sua declaração afirmando: «quando ocupámos o edifício, restituimos aos cidadãos romanos a enésima construção até aqui abandonada aos especuladores. Disponibilizaremos deste modo um tecto a 25 famílias italianas. É o nosso meio de combater esta injustiça que nasceu de um sistema económico governado pelos bancos e pelo grande capital. Recusamos uma Roma sem romanos, uma Roma sem identidade. Casa Romana será em breve um espaço à disposição dos habitantes do bairro. Será um lugar onde serão organizadas iniciativas culturais, desportivas e lúdicas. Lançamos assim a seguinte mensagem: reconstruiremos a nossa comunidade e redescobriremos o sentimento de pertença. Os romanos não se renderão, nós não abandonaremos a nossa cidade!»

Casa Romana, via Cassia 1134, Roma.

(Entretanto, dia 1 de Dezembro, a associação CasaPound Itália abandonou a ocupação de via Cassia, devido a problemas de segurança estrutural do edifício, mesmo assim com a promessa do autarca de Roma de uma solução para as 25 famílias italianas)

O princípio do fim

«Em meados dos anos 80, a desregulamentação dos mercados e as actividades desenfreadas eram encaradas como a panaceia que curaria as maleitas das decrépitas indústrias tradicionais. A ganância era de bom-tom. Os jovens licenciados marchavam em hordas para os MBA, na esperança de saírem de lá transformados em guerreiros ninja. Foi precisamente o ímpeto empresarial de jovens e brilhantes inovadores que deu origem à magia da indústria informática. Por sua vez, a ascensão dos computadores promoveu a ilusão de que o comércio da informação pura iria ser o substituto havia muito aguardado de todas as actividades decrépitas da economia industrial tradicional. Um país como os Estados Unidos, pensava-se então, já não necessitava de siderurgias, de fábricas de pneus, ou de outras actividades igualmente árduas, sujas e incómodas. As pobres massas da Ásia e da América do Sul que as acolhessem e se libertassem da servidão rural! Os Estados Unidos iriam deslocalizar todas essas actividades económicas antiquadas e usar computadores para orquestrar o movimento dos componentes e a montagem de produtos oriundos de diversos cantos do mundo, vendendo-os, depois, nos nossos Kmarts e Wal-Marts, que se tornariam os mastodontes globais do comércio retalhista. Acreditava-se que os computadores iriam aumentar enormemente a produtividade em todas as fases do processo. Os nichos profissionais abandonados na indústria seriam substituídos por profissões na economia de serviços que caminhariam a par da economia da informação. Transformar-nos-íamos num país de cabeleireiros, de massagistas, de croupiers, de proprietários de restaurantes e de agentes de espectáculos, satisfazendo as necessidades uns dos outros. Ao fim e ao cabo, quem desejaria trabalhar numa laminagem?»

James Howard Kunstler
in "O Fim do Petróleo - O Grande Desafio do Século XXI", Bizâncio, 2006.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008